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Uma pequena e simples estória rumo ao veganismo.

Em vidas passadas, quando eu tentava harmonizar a minha vida com a vida doutrem que tinha ordens explícitas para redução de ingestão de proteína, ingenuamente pensei: se é para cortar proteína vou deixar de comer carne. E assim foi, em jeito de resolução do ano novo de 2013, decidi não comprar mais carne nem peixe. Voltei para Lisboa, acabei de comer todo o “bicho” que tinha deixado congelado e desde então que nunca mais comprei carne ou peixe. Tinha dado o primeiro passo na minha casa de Lisboa. Só que na casa de São Miguel, na casa da família era mais difícil resistir à comida a que fui habituado, a que todos fomos habituados. Tendencialmente comia mais legumes, vegetais e saladas, mas continuava a comer carne ou peixe, embora não fosse eu que a cozinhasse – quão ingénuo da minha parte.

Tive de aprender a comer. Fui aos livros, aos sítios da internet, aos vídeos, aos macronutrientes e tornei-me “vegetariano”, ou como se diz “ovo-lacto-vegetariano”.

Aprendi que a proteína também vem, por exemplo, dos grãos, que não ia ficar doente se soubesse o que andasse a comer, se variasse e pusesse cor no meu prato, e que se não me tornasse um junk-foodie as coisas iam correr bem.

Até aqui, a minha adesão ao vegetarianismo tinha sido por razões de saúde (doutrem e minha). Eu venho dos Açores, culturalmente educado com o leite, as vacas, as festas e as matanças – que assisti. Portanto, os animais não estavam em primeiro lugar. Estes só passaram a primeiro lugar após “A Melhor Palestra A Que Pude Assistir” do Gary Yourofsky1.

Nesta fase, já tinha lido muitos estudos, os que estão a favor e os que estão contra - é sempre bom ver quem paga esses estudos -, mas foram as orientações da Direcção Geral de Saúde a indicarem que uma alimentação sem consumo de produtos de origem animal é suficiente e eficaz para adultos e crianças que me garantiu que tudo vai correr bem.

Quando se muda uma coisa tão básica e tão fundamental como a nossa alimentação, o medo está sempre a rondar. Se estava bem de saúde, o sangue, as análises, o peso. Pois está tudo.

Já só me faltava deixar de comer queijo e manteiga e o culpado era o pão quente, cozido a lenha ainda a crepitar. Para largar o queijo foi só lembrar-me que não preciso dele, é um concentradinho de caseína aditiva, entre outras coisas. Para a manteiga, tenho o substituto ideal: pasta de azeitona preta. Pão quente, azeitonas, azeite, alho, orégãos. É tão fácil.

Desde o passado Verão que não como “bicho” (digo assim), nem seus derivados, e faço por as minhas compras também não os conterem. O ano passado usei o meu último par de botas de couro. Fui educado a não deitar fora as coisas, ainda tenho cintos e sapatos de couro, mas nunca mais os pus, lembram-me que um animal morreu e foi esfolado para eu o por nos pés ou à volta da cintura; faz-me impressão. Há já algum tempo que seguia o canal de Youtube do Joey Carbstrong e quando soube que vinha a Lisboa não poderia deixar passar esta visita sem assistir a uma palestra dele. Nesse mesmo dia fui ver de perto um Círculo do Silêncio, dos que via na internet pelo mundo fora, fui espreitar, ver a reacção das pessoas ao verem as imagens do que nós chamamos comida. Fui convidado a colocar faixa negra na boca e empunhar um cartaz em silêncio. Tive vergonha, pois pensava estar ali por mim, pela minha saúde. Não, aquele grupo de pessoas estava ali pelos que não têm voz nem capacidade de se defenderem, todos os animais que confiam em nós até à golpada final e são mortos para consumo humano.

Ainda hoje me lembro dos guinchos dos porcos da vizinha no dia que iam para o banco ser mortos. Ao segundo porco custava sempre mais a sair do curral. Eu era criança, e ia ver a matança. Tive as orelhas do porco acabado de matar na minha cabeça e joguei à bola com a bexiga desse mesmo porco, jogávamos todos. E calhava a todos a cauda (a rabiça) pendurada no cós das calças. Ainda hoje me lembro daquela gigante vaca morta à minha frente, era eu criança, com punhal ao cimo da cabeça. Uma morte espectacular, não no bom sentido, mas no sentido estrondoso de 400 kg de animal a cair, de quatro patas abertas, no chão. Há dias sonhei com isso. Lembro-me do olhar e do grito desvanecente dum animal perdendo a vida contra um chão vermelho. Um animal que até ao espetar do punhal confiou no homem que o levou àquele antigo matadouro.

De nada vale ignorar o passado, mas dele tirar lições. Por todos os animais, pela nossa saúde e pelo ambiente, caminho para me tornar vegano.

E se também já pensaste nisso, é fácil aderires a um Desafio Vegetariano. Dura um mês, tens todas as receitas, todos os ingredientes e alternativas para todas as refeições desse mês. Se eu soubesse disso há cinco anos, tanto que me tinha facilitado a vida a cozinhar. Mas pronto, aprendi uns truques de culinária.

Inscreve-te, se não por um mês, por uma semana. E relembrando o slogan da AMI de 1995, “você não quer ser o mau da fita pois não? Dê, vai ver que não dói nada!”